Friday, January 27, 2006

Conflito Moral na Mesa do Boteco

Inúmeros filósofos, pensadores, estudiosos, ou simplesmente bêbados, buscam o conflito ético-moral em Antígona, de Sófocles. São capazes de passar horas e horas discutindo acerca do conflito moral narrado pelo dramaturgo grego, sem chegar à conclusão alguma. São até mesmo capazes de, numa atividade de grande esforço mental, fazer as mais variadas e desvairadas elucubrações sobre o que os grandes pensadores da pequena história da minúscula humanidade pensam ou pensariam a respeito do conflito moral suscitado por Sófocles em sua mais famosa peça. (para quem ainda não faz a menor idéia do que estou falando, não sabe quem é Antígona, não sabe qual era a posição de Sófocles na democracia corinthiana, etc, aqui vai o primeiro link do google sobre o tema: http://www.paidea.hpg.ig.com.br/sofocles/antigona.htm – de qualquer forma o que não faltam são links e edições da peça no mercado, incluindo uma da L&PM Pocket que se encontra em qualquer banca de revistas da cidade...).
Nada contra o esforço dos nobres colegas de bar, faculdade e rodas de samba. Pelo contrário, a iniciativa, per si, já merece aplausos. A questão que se coloca é que hoje, deslocada da realidade, a peça de Sófocles já não é mais o meio ideal para a discussão do tema do conflito moral. É certo que ainda um ou outro tem contato com a peça no colegial, uns vários na faculdade e outros tantos compram o livro sem querer nas bancas da cidade. Mas há de se convir que em tempos de Big Brother, novela das 8 e Copa do Mundo se aproximando, Antígona, Creonte, Hêmon e qualquer outro desses personagens que hoje seria motivo de chacota na lista de chamada, caem merecidamente no esquecimento após duas ou três cervejas.
Merecidamente? Será que este que vos escreve é a favor de uma sociedade amoral? Pelo contrário! A discussão deve continuar, a discussão precisa continuar! Mas não mais através de Antígona, mas sim pelas portas do mundo que se mostram meios muito mais eficazes para a discussão do tema do conflito moral.
Quando digo "portas" me refiro àquelas do plano físico mesmo, aquelas de madeira, com maçaneta e tudo. Aquelas que abrem de sopetão para passar o capitão e tudo mais. Mas antes que me questionem já explico. Não é qualquer porta que é capaz de fornecer subsídio para a discussão moral. Existem um tipo específico, um único tipo. São aquelas portas que contém em seu centro a seguinte inscrição, geralmente em letras garrafais:
ENTRE SEM BATER

Ora, quem nunca parou diante de uma porta dessas e simplesmente travou – lá ficou, parado na frente da porta durante minutos, horas, talvez dias!, sem saber o que fazer?
Afinal, as regras são claras. Foi com muito esforço que mamãe conseguiu nos ensinar a amarrar os sapatos, falar por favor, não conversar com estranhos e sempre bater na porta antes de entrar. Mas a escola, por sua vez, nos ensinou a ler e a interpretar aquilo que lemos – e neste caso a mensagem é bastante clara – a porta diz com todas as letras: desobedeça sua mãe.
O QUE FAZER AFINAL? Obedecer à mãe, que te colocou no mundo e tem a sabedoria da experiência? Ou obedecer à porta, inanimada, porém forte, sólida e rígida como a boa lei deve ser?
Prostrado inerte diante da porta fechada, além de se sentir um imbecil, você também se sentirá um personagem de desenho animado. Possivelmente seus colegas de trabalho nesta indústria vital não são pessoas tão interessantes quanto Leôncio, Zeca Urubu, os irmãos Warner, Batatinha, Espeto, Gênio, Bacana, etc. Mas certamente, diante da porta, se você olhar para o seu lado você verá (além dos colegas rindo da sua cara) um mini diabrete sobre um ombro e um mini ser angelical sobre o outro, cada um recomendando uma atitude distinta.
Não pretendo aqui, de forma nenhuma, chegar a um veredicto final sobre qual a atitude que devemos tomar diante de tal desagradável situação. Esta é um questão que não poderá jamais ser respondida com convicção por uma única pessoa: apenas uma roda de bar barato poderá chegar a uma conclusão aceitável.
O ponto que realmente me interessava era justamente este: trazer a discussão moral, a velha dicotomia regra moral X regra positivada, novamente para as mesas de bar de nosso Brasil. Pois embora hoje poucos sejam proibidos de prestar as devidas homenagens aos familiares falecidos, o debate moral ainda deve ser mantido! Por isso, não seja o chato da mesa que fala de Sófocles, Platão, Habermas, Kant e Foucault. Seja aquele que permite o desenvolvimento da humanidade, trazendo nossas dúvidas existenciais para o nosso dia-a-dia, para a mesa de bar, etc. Seja aquele filósofo do Fantástico, da Super-interessante e abra as portas para a evolução, com ou sem bater.

4 comments:

Anonymous said...

Ágata é um nome grego. Ou assim parece.

monica said...

génial.
nem vou mais postar hj, pra quê?
=p

Anonymous said...

Deus Santo. Mais um populista.

Anonymous said...

Sim, provavelmente por isso e