Thursday, July 20, 2006

Uma geração de Einsteins e Brad Pitts

Por muitos e muitos anos afirmei que a humanidade não tinha salvação. O problema não era o sistema político, não era a existência ou não de Estado. O problema, em minha visão, era um só: existiam seres humanos. Qualquer sistema estava fadado ao fracasso por um único e simples motivo: ele dependeria da boa vontade dos seres humanos.

Mas, justamente agora, quando todas as esperanças pareciam perdidas, vejo uma luz no fim do túnel. Sim, meus caros amigos, a nova geração garantirá um futuro melhor para a humanidade, o futuro brilhante que todos nós esperávamos finalmente chegará! Podemos depositar nossa confiança nos pequenos e pequenas de no máximo cinco anos de idade – serão eles que garantirão o destino glorioso ao qual a humanidade sempre fez jus!

E, veja bem, o que faço não são previsões sem bases sólidas, sem comprovação. Trata-se de mera constatação sobre o mundo que nos cerca.

Repare bem. Olhe à sua volta, procure seu colega de trabalho. Isso. Agora, pergunte a ele “como vai seu sobrinho?”, ou se tiver sorte, quem sabe você não poderá até perguntar “como vai seu filho, aquele pitoquinho?”.

Ah, estou para ver adulto mais sincero! “Sabe, ele é bonitinho, bochechudinho e tudo mais, todo cuti-cuti como deve ser, mas tenho a sensação de que ele é meio burrinho, meio pancada mesmo, sabe? Porra, o moleque já tem quatro anos e tudo que sabe falar é “cacá”. Passa o avião ele até identifica, abre os braços, finge que tá voando, faz o bigodinho do Santos Dumont, e tudo mais. Mas na hora que você acha que ele vai falar ‘olha o avião’, lá vem ele como mais um “cacá”... É triste viu? Tenho dó dos pais – esse daí não tem futuro...”

Ou, quem sabe, um honesto comentário... “Pois é, sabe o Amaral, o cabeça-de-área de Notre Dame que jogava no Palmeiras? Pois bem, o moleque parece cruzamento do Amaral com o Tevez... mas até que é bacana, dá pra brincar com ele e tudo mais – é só você ficar girando ele de ponta-cabeça que ele já se diverte horrores...”.

Ah, mas não o meu sobrinho! Não o meu filho! Ele não! Ele é inteligente, ele é lindo, tem uns olhos! E aquele jeito de andar tropeçando, aquilo não é falta de coordenação não! É um charminho, é até engraçadinho...

Ah malditos hormônios que daqui 12 anos estragarão mais uma vez com o futuro da humanidade. Malditos hormônios...

Wednesday, July 19, 2006

A elite cultural da Terra Média

Estudar na USP, PUC, Mackenzie, Cásper, etc. não é nem um pouco fácil. Não pelo vestibular e pelas provas de final de semestre – não, não! Essas, todos os estudantes informarão que basta um pouco de esforço e estudo (e em algumas matérias, nem isso...) que se consegue passar.
A grande dificuldade não é culpa da universidade em si, mas do infeliz que um dia falou para os estudantes de todas estas instituições que “vocês fazem parte da elite cultural e intelectual do país”. Deus do céu! Prefiro não entrar aqui no mérito da questão (mais uma vez...), mas há de se concordar que isso é uma responsabilidade imensa! E é assim, com o peso dessa responsabilidade sobre nossas costas que somos obrigados a encarar o mundo, conforme somos treinados nas melhores escolas da cidade desde os sete anos de idade.
O resultado, como já era de se imaginar, é um só: nos tornamos chatos! Sim, chatos, no sentido mais vil, mesquinho e chato da chatice! Sentimo-nos na obrigação de tudo discordar, de não seguir as grandes massas, de sempre estar no carro abre-alas da contra-cultura.
Para atingir esses objetivos, cada um elege seus alvos favoritos: Daizy Tigrona, Tati Quebra-Barraco, Gugu Liberato, João Kleber, Lya Luft, Paulo Coelho, Dan Brown e Sylvester Stalone. O ‘não li e não gostei’ não parece um grande crime para nós. E, que fique claro, quando se lê, o objetivo é um só: arranjar as justificativas para o fato de não ter gostado da obra, procurar seus mais ínfimos deslizes.
No entanto, como puderam reparar pelo último post neste Blog, às vezes caímos do cavalo. Entretanto, hoje não falarei novamente sobre Da Vinci e seu Código, mas sim sobre aquele que foi meu alvo preferido nos últimos cinco anos: J. R. R. Tolkien.
Sem dúvida, escolher Tolkien como alvo principal não é uma tarefa fácil, afinal, mesmo dentro da “elite cultural” ele tem seus defensores e fãs. Talvez tenha sido justamente isso que nos fez optar por ele como alvo principal: o desafio, o prazer em torrar a paciência de um fanático. Sim, porque não existe nada mais irritante do que um fanático – e nada mais divertido do que irritar um fanático. Os fanáticos não aceitamos argumentos (wow! Silepse!), não aceitamos opiniões contrárias e, não, não podemos levar esse simples comentário numa boa.
Hoje, no entanto, é dia de sacar o véu e mostrar nossa verdadeira face. Sim, eu confessarei, não acho Tolkien tão ruim assim... Não, isso não significa que eu vá aceitar calmamente pessoas ensandecidas afirmando que ele é o maior escritor de todos os tempos. Afinal, se a elite cultural não defender o humor de Machado de Assis, a classe de Eça de Queiroz e o brilhantismo de Scott Fitzgerald (para não citar os mestres que não lemos mas temos que falar bem, invariavelmente, pelo simples fato de fazermos parte da elite cultural, como Proust, Joyce, etc, etc), quem mais os defenderá?
O que poucos que convivem comigo sabem é que quando li O Hobbit nos idos de 1999, considerei-o um baita livro! Não tive dúvida e adquiri o primeiro volume de Senhor dos Anéis assim que pude. Quando acabei o primeiro volume, num final de tarde chuvoso de sexta-feira, obriguei alguém de casa a me levar até a livraria mais próxima para poder comprar os dois volumes restantes o mais rápido possível.
Pois bem, comprei-os e devorei a primeira metade do volume dois em poucos dias, até que Frodo e Sam reapareceram em minha vida. E então...Deus do céu! Jamais consegui passar do Capítulo II do Livro IV.
Vislumbro dois culpados para essa história toda: Frodo, que deve ter se revelado um personagem bastante enfadonho para mim na época, ou, quem sabe, Michael Ende, autor de História Sem Fim, talvez o grande livro/filme de minha infância.
As semelhanças entre História Sem Fim e SdA são evidentes. Não existem dúvidas que o segundo foi verdadeira condição para que o primeiro existisse, o que, fique claro, não significa cópia, mas verdadeira inspiração.
Suponho que a impressão que eu tinha, do alto de meus quinze anos, era uma só: Michael Ende instaurou a antropofagia na literatura de fantasia alemã. Ende teria engolido, devorado Senhor dos Anéis e colocado-o para fora, impregnado pelo pragmatismo germânico, que talvez tenha sido justamente o que me conquistou.
Tudo aquilo que os fãs de Tolkien consideram méritos e trunfos, eu considero besteira: ele criou uma língua nova! Ele criou uma Terra nova, com mapas e tudo mais! E daí? A impressão que sempre tive foi que isso não passava de uma grande perda de tempo – Ende não criou um alfabeto novo e não precisou desenhar mapas de Fantasia e, ainda assim, conseguiu criar um universo tão apaixonante quanto o de SdA em apenas um volume.
Devo confessar que é no mínimo curioso a História Sem Fim ser composta por um único volume, que já li duas vezes, enquanto Senhor dos Anéis, tem três volumes, que jamais consegui chegar ao fim.
A impressão que dá, realmente, é a de que, embora se diga que tamanho não é documento, ele ainda impressiona as pessoas, contando pontos a favor do prolixo Tolkien.

O fato é que, vendo o post anterior, em que admito que li e gostei de Código da Vinci e vendo o que acabo de escrever, assumindo, de uma forma mascarada, é claro, mas assumindo que até gosto de Tolkien, uma dúvida assustadora começa a tomar conta de mim: estaria eu ficando menos chato??

Sunday, July 16, 2006

Da Vinci e suas surpresas

Admito que comecei a ler o Código da Vinci por um único motivo. Não era para poder comparar com o filme, não era para melhor acompanhar as discussões do programa da Luciana Gimenez, não era por falta do que ler, nem era por vontade de adiar a monografia de final de curso (tá ok, nesse caso até era um pouco...). Meu objetivo era: ler para poder falar mal.

Se essa foi minha única motivação para iniciar a leitura, também devo confessar que acabei a leitura por um único motivo: eu estava gostando do livro.

Por mais que eu estivesse lendo o livro em busca de falhas, atento aos deslizes, verificando cada tropeço na lógica e na coerência da narrativa, a obra de Dan Brown foi capaz de me prender e me cativar.

Não que seja uma grande obra da literatura contemporânea. Longe disso. Muito menos pode se considerar um belo romance policial, no melhor estilo Agatha Christie. Longe, muito longe disso. Mas o livro tem seus méritos.

Aqueles que buscam tais méritos na narrativa em si irão se decepcionar, muito provavelmente do começo ao fim – principalmente no fim, diria eu, desapontador, forçado, hollywoodiano, quem sabe. A habilidade de Dan Brown em contar histórias policiais não chega nem próximo a de uma Agatha Christie, Sir Arthur Conan Doyle, ou, para soar mais moderno e in, um Denis Lehane (ou seja lá como se chama o autor de Sobre Meninos e Lobos). Seus diálogos são bobos, mal construídos, inverossímeis e suas seqüências de ação muitas vezes parecem escritas com um olho na conta bancária outro na adaptação para as telas.

Ora, mas afinal, qual o mérito do livro?

Seu contexto, seu pano de fundo. A mensagem, em si, sobre fé, igreja, etc., é irrelevante. Mas o contexto “histórico” que costura a narrativa é cativante. Mais do que um assunto capaz de despertar nossa curiosidade e mantê-la acordada pelas próximas 475 páginas, é um assunto polêmico, ideal para discussões filosóficas em mesa de bar. Não a existência do graal, ou a substituição da adoração de uma divindade por outra – isso é irrelevante. O principal é a discussão sobre instituições que o livro suscita, no caso, instituições ligadas ao mais polêmico dos assuntos: religião.

É justamente o tema polêmico que suscitará as discussões acaloradas, os discursos ácidos e as críticas raivosas ao livro. E será justamente o mesmo tema polêmico que levará à existência dos mais sinceros elogios à obra. Depende unicamente da opinião pré-concebida e se o livro com ela se alinha ou não. Isso porque o livro é mero romance policial, que jamais terá, ou ao menos não deveria ter, o objetivo de mudar a opinião de ninguém sobre o tema – é simples passa-tempo. Mas um passa tempo que mexe com polêmica, fé e crença.

No meu caso pessoal, hoje o livro recebe seus elogios, ao menos quanto à temática abordada, por um simples motivo: de uma forma ou de outra, concordo com a mensagem lá passada. Não sobre a “baboseira” de adoração da deusa e do sagrado feminino, mas sim quanto à desnecessidade, para dizer o mínimo, da existência da igreja nos moldes que hoje existe, bem como demais instituições de mesmo caráter, para a correta “propagação” e aplicação dos ideais cristãos (ou de qualquer outra religião, doutrina, etc.). Não entrarei aqui no mérito da questão – os interessados em isso discutir estão mais do que convidados para uma rodada de Original em algum boteco sórdido na Rua Augusta.

O grande pecado do livro, de qualquer forma, está na narrativa em si. Como Robin Cook, que no seu Risco Calculado, acerta a temática do contexto (no caso, as bruxas de Salem e os efeitos do Prozak, acreditem...) mas erra a mão na narrativa, Dan Brown comete seus deslizes mas garante seu sucesso e o dinheiro na conta no final do mês de forma mais do que digna. A falha, não cometida por Robin Cook, mas levada a cabo por Dan Brown, bem como por outros escritores do gênero, é a falta de um bibliografia final, o que certamente garantiria maior “credibilidade” à obra (na medida em que um romance policial necessita de credibilidade...) e evitaria maiores discussões.

Uma pena, de fato, que poucos tenham a habilidade demonstrada por John Dunning em sua estréia, Edições Perigosas, em que a melhor narrativa policial é misturada com maestria com um contexto real e interessante (no caso, o mercado de livros raros nos EUA).

Assim, tendo começado a ler quase que a contra-gosto, e tendo acabado a leitura por puro prazer, resta-me uma surpresa e um medo. A surpresa pela qualidade do livro – se não pela sua qualidade técnica, pela sua qualidade no quesito “chamar a atenção” através de um pano de fundo bem delineado. O medo, por sua vez, é decorrente também do fato de ter acabado o livro por puro prazer: já imaginou se ao começar a ler Paulo Coelho com o simples objetivo de criticar acabo dele gostando? Bem, nesse caso não tenho tanto medo, devo admitir. Tenho certeza que Paulo Coelho não me decepcionará e confirmará minhas piores expectativas...

Monday, July 10, 2006

Do porquê eu "adoro" Praças de Alimentação

Sexta-feira, por exemplo, molharam meu arroz e chamaram de risotto.
Ai que maravilha!

Tuesday, July 04, 2006

Aos perdedores a aposentadoria

A Copa do Mundo ainda não acabou, embora seja essa a impressão que se tem ao andar nas ruas da cidade. As bandeiras foram tiradas das janelas, as camisas foram colocadas de volta no armário, as ruas não receberam reforço na pintura patriótica do asfalto e, graças ao bom Deus, as cornetas da 25 de março foram silenciadas.

Mas, analisando as últimas semanas de forma mais fria, relembrando as atuações do selecionado brasileiro, a impressão que se tem não é de que a copa já acabou - mas sim que ela nem mesmo chegou a começar. A sensação que se tem é algo semelhante ao lançamento da nave espacial Challenger, anos atrás: muito se preparou, se esperou, a festa foi armada, a cerevja colocada na geladeira, a pipoca colocada para estourar...até que, antes de se ter vontade de tomar a primeira cerveja e se ouvir o estouro da primeira pipoca, "o leite azedou e o filme queimou". Como a Challenger, que buscava atingir as estrelas, nossa seleção buscava atingir alturas inimagináveis para buscar a almejada "sexta estrela". E como a Challenger a seleção não passou de alguns metros de altura e seu desastre foi visível a olho nu.

As falhas que levaram a seleção de Parreira ao fracasso já foram analisadas, batidas, rebatidas e debatidas por todos os meios de comunicação e são bastante evidentes. Quanto a isso, não tenho novidade alguma para dizer.

O ponto é que, ao término dessa copa, em que, com raras exceções, os que fizeram parte da seleção brasileira saíram como perdedores, há um jogador que saiu mais perdedor que os demais e um jogador que saiu vitorioso, justamente por nada fazer.

O perdedor dos perdedores, evidentemente, é o "Zé Risada" da Copa de 1998, sr. Roberto Carlos. Após uma atuação desastrosa na França, Roberto Carlos conseguiu apagar momentaneamente suas falhas em lances capitais na copa anterior com uma atuação "Nota 6: não comprometeu" na copa de 2002. Encerrasse lá sua participação na seleção brasileira, não seria lembrado por grandes feitos, mas não seria recordado amargamente como será a partir do último sábado.

Hoje, caso se peça a qualquer brasileiro para que faça um esforço mental para listar as cinco primeiras cenas que lhe vem à cabeça ao se falar em Roberto Carlos na seleção, a lista invariavelmente será a seguinte:

1) A bicicleta mal-sucedida dentro da área do Brasil em 1998;
2) O chute na bandeirinha de escanteio no lance que originou o primeiro gol francês em 1998;
3) A belíssima cobrança de falta, cheia de efeito e veneno, um ano antes, salvo engano contra a própria França em algum torneio pré-copa, possivelmente a Copa das Confederações;
4) Roberto Carlos com cara de desdém e despeito, "deitado eternamente em berço esplêndido" na frente do banco de reservas do Brasil, durante o jogo contra o Japão na copa de 2006; e, por fim,
5) Roberto Carlos arrumando o meião enquanto Henry entra livre para marcar o gol que desclassificaria o Brasil da Copa da Alemanha.

Nada mal para um jogador que já foi considerado o melhor do mundo em sua posição, não?

Para coroar o fim do desastroso ciclo do lateral na Seleção Brasileira, um dia após a eliminação "em suas costas", Roberto Carlos anuncia que não deseja mais jogar pela Seleção Brasileira, anunciando sua "aposentadoria" da seleção já pedida por torcedores há anos, e que certamente seria efetivada por qualquer técnico que assumisse o comando da seleção após a copa. Ou seja, a última impressão que o povo tem é a de que Roberto Carlos, com uma última cartada, tentou ainda sair "por cima" da seleção, anunciando sua aposentadoria antes que a mesma fosse constatada nas próximas convocações...


Pois bem - se Roberto Carlos saiu como o grande perdedor da Copa, quem saiu como o vencedor:? Rivaldo. Rivaldo que, fazendo parte desta mesma geração, não teve sua história manchada por uma atuação desastrosa de uma seleção de astros. Rivaldo que pode dizer com orgulho que foi o melhor jogador Brasileiro por duas copas consecutivas, levando a seleção a um título e a um vice-campeonato.

Os números que Cafu e Roberto Carlos deixam na seleção parecerão pequenos ao se comparar ao futebol apresentado por Rivaldo em 1998 e 2002.

AVE RIVALDO! Que azar o nosso de não termos você novamente em grande forma em 2006! Que sorte a sua de não ter participado do fiasco de 2006!


P.S.: No fundo, o fato mais triste do fim da Copa do Mundo não é a eliminação do Brasil em si, mas sim a certeza de que, dentro em breve, o Campeonato Brasileiro recomeça, e teremos que nos contentar com Rosembrick para nos tirar da incômoda penúltima posição... ai Jesus!