Wednesday, February 01, 2006

Baixo - Ilustre Desconhecido - Parte 1

Lembro-me que certa vez, um bom tempo atrás, afirmei com aquela certeza que somente um pré-adolescente é capaz de ter sobre um tema que desconhece por completo, que ‘o baixo bem tocado é aquele que você não ouve’. Possivelmente eu estava tentando reproduzir algo que eu tinha ouvido alguém falar mas não tinha entendido corretamente – certamente alguém reclamando que em determinado disco (pretendo comentar sobre isso especificamente em outro texto...) ou show o baixo mal tocado ou mal preparado se sobrepunha por todo o som com seus graves...

Talvez com um certo tardar, mas ainda a tempo, venho tentar desfazer esse erro histórico de minha pré-adolescência. Primeiramente, desculpando-me com o próprio instrumento, pelo qual vim a ter grande admiração posteriormente. E em segundo lugar, peço desculpas a todos aqueles que em algum momento de alguma discussão foram alvejados por argumentos fracos que culminavam com essa afirmação esdrúxula e estapafúrdia.

Não querendo me justificar, mas já o fazendo, o fato é que o contra-baixo, ou baixo, como preferirem, é um ilustre desconhecido para a grande maioria do público da música pop. Não que não esteja presente – pelo contrário, a música pop é invariavelmente marcada por linhas de baixo bem construídas, de Beatles a Bee Gees, passando por Ivete Sangalo e Vanilla Ice.

Coloco o público da música pop como foco por uma série de motivos: primeiro porque é justamente o tipo de pessoa com quem temos mais contato no dia-a-dia, contato este que nos fez constatar que o baixo ainda é um anônimo dentre os instrumentos; além disso porque em outros estilos de música, notadamente o Jazz, o contra-baixo possui um lugar de tamanho destaque na música, e seus admiradores acompanham a música dedicando uma atenção praticamente inexistente dentre o público da música pop, que seria impossível ao instrumento manter seu anonimato dentro deste grupo de ouvintes.

A questão que se coloca é: por que o baixo ainda é visto pelo grande público como ‘aquela outra guitarra meio desajeitada’ e o baixista como ‘aquele cara que balança a cabeça sem parar mesmo sem ninguém ouvir o que ele está tocando’? Por que quando falamos para alguém que tocamos baixo ouvimos sempre aquele ‘Ah...’ em conjunto com aquela cara de ‘não entendi mas não vou perguntar...’? Por que mesmo com a música pop tendo linhas de baixo marcantes, comentá-las é falar com as paredes?

Arrisco dizer que a resposta começa na infância, dentro de casa. Salvo as exceções de pessoas que já nascem com uma habilidade notável para a música e os casos em que os pais incentivam a criança de forma contínua e adequada, não somos educados em nossas casas, e muitas vezes as escolas não buscam cobrir tais lacunas, a escutar música. Escutar não como meramente ouvir música, tal como ouvimos a obra do apartamento de cima ou o cachorro do vizinho latindo durante toda a noite. Escutar a música da mesma forma que na infância degustamos uma Negresco – primeiro a ‘tampa’, depois o recheio que lambemos vagarosamente, encerrando com a outra ‘casca’. Não que devêssemos ser educados desde criança a sermos chatos que só ouvem SACDs remasterizados nas caixas de som de 5 mil dólares que permitem um som mais puro é limpo, permitindo a correta identificação de cada instrumento em cada faixa. Ora, se comemos uma ou duas Negrescos do pacote desta forma calma e minuciosa, enquanto devoramos o restante, podemos também ser educados a ouvir a música no radinho de pilha de baixa qualidade (acho que hoje as crianças chamariam isso de MP3 a 96 kbps...) e escutar uma ou outra música quando desejássemos.

Mas, como se sabe, não é isso que acontece. Ouvimos a música desde criança como se fosse uma coisa só (e a celebrada MPB com seu banquinho e violão não ajuda muito a mudar isso, é claro...) que já vem meio pronta e em conjunto.

E assim vai passando o tempo, vamos adentrando nas escolas de música e fazendo nossas opções pelos instrumentos. A guitarra é a preferida, sem dúvida, desde os seis anos de idade – criança alguma é capaz de passar incólume por uma sessão da tarde com Marty McFly tocando Johnny B. Goode no baile ‘Encanto Submarino’ em De Volta para o Futuro. O piano e o teclado é velho conhecido de todos – seu som é facilmente identificável e sempre existe a avó ou o tio que tem um encostado em algum canto da sala... A bateria, por sua vez, é a opção dos barulhentos. Os metais, coitados, são jogados todo no mesmo saco... E o baixo... Bem o baixo, salvo as exceções antes apontadas, é a escolha óbvia do pré-adolescente que quer ser diferente, mesmo não sabendo muito bem para que serve aquele instrumento que está empunhando de forma meio desengonçada.

Como tenho consciência que as pessoas têm pouca paciência para uma leitura longa em blogs, dividirei o texto em duas ou três partes. O restante das divagações sobre o baixo, portanto, continuo na próxima oportunidade...

3 comments:

Anonymous said...

Pq necessariamente o baixo? Ora, muito menos gente sabe tocar xilofone, só para ficar com um exemplo. E a cuíca? Tantos instrumentos mais exóticos e mais incompreendidos que o baixo... A verdade é que o senhor só escreve sobre aquilo que lhe diz respeito.

Et: uma vez que isto é um blog, creio que vc escrever somente sobre o que lhe diz respeito é bastante compreensível. De qualquer forma, eu não poderia deixar passar incólume essa injustiça com o xilofone.

Anonymous said...

Xilofone e metalofone não tem a menor importancia na musica pop, caso ainda não tenha reparado...

Anonymous said...

Seu purista!