Sunday, July 16, 2006

Da Vinci e suas surpresas

Admito que comecei a ler o Código da Vinci por um único motivo. Não era para poder comparar com o filme, não era para melhor acompanhar as discussões do programa da Luciana Gimenez, não era por falta do que ler, nem era por vontade de adiar a monografia de final de curso (tá ok, nesse caso até era um pouco...). Meu objetivo era: ler para poder falar mal.

Se essa foi minha única motivação para iniciar a leitura, também devo confessar que acabei a leitura por um único motivo: eu estava gostando do livro.

Por mais que eu estivesse lendo o livro em busca de falhas, atento aos deslizes, verificando cada tropeço na lógica e na coerência da narrativa, a obra de Dan Brown foi capaz de me prender e me cativar.

Não que seja uma grande obra da literatura contemporânea. Longe disso. Muito menos pode se considerar um belo romance policial, no melhor estilo Agatha Christie. Longe, muito longe disso. Mas o livro tem seus méritos.

Aqueles que buscam tais méritos na narrativa em si irão se decepcionar, muito provavelmente do começo ao fim – principalmente no fim, diria eu, desapontador, forçado, hollywoodiano, quem sabe. A habilidade de Dan Brown em contar histórias policiais não chega nem próximo a de uma Agatha Christie, Sir Arthur Conan Doyle, ou, para soar mais moderno e in, um Denis Lehane (ou seja lá como se chama o autor de Sobre Meninos e Lobos). Seus diálogos são bobos, mal construídos, inverossímeis e suas seqüências de ação muitas vezes parecem escritas com um olho na conta bancária outro na adaptação para as telas.

Ora, mas afinal, qual o mérito do livro?

Seu contexto, seu pano de fundo. A mensagem, em si, sobre fé, igreja, etc., é irrelevante. Mas o contexto “histórico” que costura a narrativa é cativante. Mais do que um assunto capaz de despertar nossa curiosidade e mantê-la acordada pelas próximas 475 páginas, é um assunto polêmico, ideal para discussões filosóficas em mesa de bar. Não a existência do graal, ou a substituição da adoração de uma divindade por outra – isso é irrelevante. O principal é a discussão sobre instituições que o livro suscita, no caso, instituições ligadas ao mais polêmico dos assuntos: religião.

É justamente o tema polêmico que suscitará as discussões acaloradas, os discursos ácidos e as críticas raivosas ao livro. E será justamente o mesmo tema polêmico que levará à existência dos mais sinceros elogios à obra. Depende unicamente da opinião pré-concebida e se o livro com ela se alinha ou não. Isso porque o livro é mero romance policial, que jamais terá, ou ao menos não deveria ter, o objetivo de mudar a opinião de ninguém sobre o tema – é simples passa-tempo. Mas um passa tempo que mexe com polêmica, fé e crença.

No meu caso pessoal, hoje o livro recebe seus elogios, ao menos quanto à temática abordada, por um simples motivo: de uma forma ou de outra, concordo com a mensagem lá passada. Não sobre a “baboseira” de adoração da deusa e do sagrado feminino, mas sim quanto à desnecessidade, para dizer o mínimo, da existência da igreja nos moldes que hoje existe, bem como demais instituições de mesmo caráter, para a correta “propagação” e aplicação dos ideais cristãos (ou de qualquer outra religião, doutrina, etc.). Não entrarei aqui no mérito da questão – os interessados em isso discutir estão mais do que convidados para uma rodada de Original em algum boteco sórdido na Rua Augusta.

O grande pecado do livro, de qualquer forma, está na narrativa em si. Como Robin Cook, que no seu Risco Calculado, acerta a temática do contexto (no caso, as bruxas de Salem e os efeitos do Prozak, acreditem...) mas erra a mão na narrativa, Dan Brown comete seus deslizes mas garante seu sucesso e o dinheiro na conta no final do mês de forma mais do que digna. A falha, não cometida por Robin Cook, mas levada a cabo por Dan Brown, bem como por outros escritores do gênero, é a falta de um bibliografia final, o que certamente garantiria maior “credibilidade” à obra (na medida em que um romance policial necessita de credibilidade...) e evitaria maiores discussões.

Uma pena, de fato, que poucos tenham a habilidade demonstrada por John Dunning em sua estréia, Edições Perigosas, em que a melhor narrativa policial é misturada com maestria com um contexto real e interessante (no caso, o mercado de livros raros nos EUA).

Assim, tendo começado a ler quase que a contra-gosto, e tendo acabado a leitura por puro prazer, resta-me uma surpresa e um medo. A surpresa pela qualidade do livro – se não pela sua qualidade técnica, pela sua qualidade no quesito “chamar a atenção” através de um pano de fundo bem delineado. O medo, por sua vez, é decorrente também do fato de ter acabado o livro por puro prazer: já imaginou se ao começar a ler Paulo Coelho com o simples objetivo de criticar acabo dele gostando? Bem, nesse caso não tenho tanto medo, devo admitir. Tenho certeza que Paulo Coelho não me decepcionará e confirmará minhas piores expectativas...

1 comment:

Moon Safari said...

Devia ter começado por 'Anjos e Demônios', é bem melhor que o Código.

Sobre o Paulo Coelho... não força a barra, por favor.