Tuesday, July 04, 2006

Aos perdedores a aposentadoria

A Copa do Mundo ainda não acabou, embora seja essa a impressão que se tem ao andar nas ruas da cidade. As bandeiras foram tiradas das janelas, as camisas foram colocadas de volta no armário, as ruas não receberam reforço na pintura patriótica do asfalto e, graças ao bom Deus, as cornetas da 25 de março foram silenciadas.

Mas, analisando as últimas semanas de forma mais fria, relembrando as atuações do selecionado brasileiro, a impressão que se tem não é de que a copa já acabou - mas sim que ela nem mesmo chegou a começar. A sensação que se tem é algo semelhante ao lançamento da nave espacial Challenger, anos atrás: muito se preparou, se esperou, a festa foi armada, a cerevja colocada na geladeira, a pipoca colocada para estourar...até que, antes de se ter vontade de tomar a primeira cerveja e se ouvir o estouro da primeira pipoca, "o leite azedou e o filme queimou". Como a Challenger, que buscava atingir as estrelas, nossa seleção buscava atingir alturas inimagináveis para buscar a almejada "sexta estrela". E como a Challenger a seleção não passou de alguns metros de altura e seu desastre foi visível a olho nu.

As falhas que levaram a seleção de Parreira ao fracasso já foram analisadas, batidas, rebatidas e debatidas por todos os meios de comunicação e são bastante evidentes. Quanto a isso, não tenho novidade alguma para dizer.

O ponto é que, ao término dessa copa, em que, com raras exceções, os que fizeram parte da seleção brasileira saíram como perdedores, há um jogador que saiu mais perdedor que os demais e um jogador que saiu vitorioso, justamente por nada fazer.

O perdedor dos perdedores, evidentemente, é o "Zé Risada" da Copa de 1998, sr. Roberto Carlos. Após uma atuação desastrosa na França, Roberto Carlos conseguiu apagar momentaneamente suas falhas em lances capitais na copa anterior com uma atuação "Nota 6: não comprometeu" na copa de 2002. Encerrasse lá sua participação na seleção brasileira, não seria lembrado por grandes feitos, mas não seria recordado amargamente como será a partir do último sábado.

Hoje, caso se peça a qualquer brasileiro para que faça um esforço mental para listar as cinco primeiras cenas que lhe vem à cabeça ao se falar em Roberto Carlos na seleção, a lista invariavelmente será a seguinte:

1) A bicicleta mal-sucedida dentro da área do Brasil em 1998;
2) O chute na bandeirinha de escanteio no lance que originou o primeiro gol francês em 1998;
3) A belíssima cobrança de falta, cheia de efeito e veneno, um ano antes, salvo engano contra a própria França em algum torneio pré-copa, possivelmente a Copa das Confederações;
4) Roberto Carlos com cara de desdém e despeito, "deitado eternamente em berço esplêndido" na frente do banco de reservas do Brasil, durante o jogo contra o Japão na copa de 2006; e, por fim,
5) Roberto Carlos arrumando o meião enquanto Henry entra livre para marcar o gol que desclassificaria o Brasil da Copa da Alemanha.

Nada mal para um jogador que já foi considerado o melhor do mundo em sua posição, não?

Para coroar o fim do desastroso ciclo do lateral na Seleção Brasileira, um dia após a eliminação "em suas costas", Roberto Carlos anuncia que não deseja mais jogar pela Seleção Brasileira, anunciando sua "aposentadoria" da seleção já pedida por torcedores há anos, e que certamente seria efetivada por qualquer técnico que assumisse o comando da seleção após a copa. Ou seja, a última impressão que o povo tem é a de que Roberto Carlos, com uma última cartada, tentou ainda sair "por cima" da seleção, anunciando sua aposentadoria antes que a mesma fosse constatada nas próximas convocações...


Pois bem - se Roberto Carlos saiu como o grande perdedor da Copa, quem saiu como o vencedor:? Rivaldo. Rivaldo que, fazendo parte desta mesma geração, não teve sua história manchada por uma atuação desastrosa de uma seleção de astros. Rivaldo que pode dizer com orgulho que foi o melhor jogador Brasileiro por duas copas consecutivas, levando a seleção a um título e a um vice-campeonato.

Os números que Cafu e Roberto Carlos deixam na seleção parecerão pequenos ao se comparar ao futebol apresentado por Rivaldo em 1998 e 2002.

AVE RIVALDO! Que azar o nosso de não termos você novamente em grande forma em 2006! Que sorte a sua de não ter participado do fiasco de 2006!


P.S.: No fundo, o fato mais triste do fim da Copa do Mundo não é a eliminação do Brasil em si, mas sim a certeza de que, dentro em breve, o Campeonato Brasileiro recomeça, e teremos que nos contentar com Rosembrick para nos tirar da incômoda penúltima posição... ai Jesus!

1 comment:

Talita R. C. said...

Você voltou!!!